Maio já está no final…na verdade ainda falta uma semana, mas ainda dá tempo de falar deste mês tão especial para mim e de mulheres fortíssimas em minha vida, como as aniversariantes do mês: minha mãe, minhas primas Priscila e Mariana Moreno,Rita Lee (que apesar de ter nascido em 31 de dezembro, escolheu o dia de Santa Rita, 22 de maio, para ser seu novo dia de aniversário) e Clarissa Dalloway, que completa 100 anos que nasceu para o mundo através do livro homônimo, escrito por Virginia Woolf.
Eu poderia dedicar essa edição da Talvez você curta! para qualquer um dos aniversariantes mencionados acima, pois todos têm histórias de vida super interessantes, mas, como não quero problemas com quem está vivo, dedicarei as próximas linhas digitais à Mrs. Dalloway e sua criadora.
Meu primeiro contato com esse livro foi bem tarde na minha opinião, mas como eu acredito que tudo tem a hora e o lugar certo para as coisas acontecerem, eu tive em minhas mãos a mais celebrada obra de Virgínia Woolf depois dos quarenta. Ainda estou passando pelo mesmo momento de autoconhecimento muito aflorado e busca acelerada por conhecimentos que estava vivendo quando iniciei minha leitura há um ano e a sensação que tenho é que ao invés de ter despertado em mim o tal relógio materno, depertou um outro que não me faz esquecer que agora o tempo está cada vez mais curto e que eu preciso correr para conhecer o máximo que puder e tirar o atraso dos saberes que deixei para trás conscientemente, pela ansiedade da juventude.
O meu FOMO (fear of missing out) não é digital, mas de livros, filmes, estudo psicanalíticos…de tudo que me desperte interesse.
Voltando à Mrs. Dalloway, claro, que este livro estava entre os primeiros que leria com a máxima urgência não apenas pela sua representatividade na literatura mundial, mas também porque, para mim,ele é um exemplo sobre como os livros podem explorar as diversas camadas do ser humano, não à toa ele é considerado o primeiro livro que explorou o inconsciente humano de forma literária, um romance psicológico.
Falando assim, parece um pouco confunso e até entediante, mas tudo é muito simples. Virgínia Woolf escreve seus personagens como se estivesse dentro da cabeça de cada um deles. A voz narrativa nos coloca em uma posição geográfica dentro do livro como se fosse possível ver todos de cima, ao mesmo tempo, de modo que também consigamos entrar nos personagens e nos ambientes. É muito inusitada essa leitura que, para mim, foi difícil decifrá-la logo de imediato. Precisei, assim como algumas outros leitores (vi alguns depoimentos na internet), ler mais de uma vez as primeiras páginas para conseguir entender o tipo de escrita de Woolf nesse trabalho.Essa obra foi tão desruptiva para a época, que a sociedade literária dos anos 20, do seculo XX, não a considerava um produto literal. Pobres homens tacanhos: nunca imaginariam que estaria tão viva um século depois do seu lançamento, arrebatando leitores de todas as gerações.
Hoje, Mrs. Dalloway, não só é classificada com uma das maiores obras do século XX, como também Virgínia Woolf se transformou em musa litarária que inspira uma escrita infinitas possibilidade de criação.
“Mrs. Dalloway disse que ela mesma iria comprar flores” e eu fui com ela. Foi um passeio de um dia maravilhoso, repleto de choques de realidade ao tratar de transtornos mentais, fantasias promovidas pela elite inglesa, critica social ao papel feminino naquele ambiente ainda influenciado pela Era Vitoriana e, o mais importante, ter a companhia da Virgia Woolf que também se tornou uma musa para mim.
Quem foi Virgina Woolf
Nascida em 1882, na Inglaterra, Virgínia cresceu em meio a arte e muitas perdas familiares. Ainda muito criança, ela perde a mãe e sua meia-irmã, o que lhe deixa traumas por toda a vida. Poucos anos depois, morre seu pai, um editor e crítico, e seu outro irmão, vivendo agora apenas com sua irmã Vanessa Bell, uma pintora que lhe apresenta o universo das artes na adolescência.
Na juventude participou de um grupo (Grupo Bloomsbury) de intelectuais e artista, no qual era a única mulher. Nesta fase conhece o jornalista e funcionário da monarquia Leonardo Woolf, casam-se e juntos fundam a editora Hogarth Press.
Woolf teve uma vida muito ativa e produtiva como editora, autora, ensaísta. Ao longo da sua carreira como escritora escreveu A Viagem (1915), Noite e Dia (1919), O quarto de Jacob (1922), Mrs. Dalloway (1925), Rumo ao Farol (1927), Orlando: uma biografia (1928), Um quarto todo seu (1929), As Ondas (1931),Flush: uma biografia (1933), Os anos (1937), Entre os atos (1941) e muitos contos,ensaios e artigos, como O leitor comum.
Em 1941, temendo passar por mais um surto mental, Virginia Woolf tira a própria vida.
A editora 34 lançou uma nova edição de Um quarto todo seu (que nessa versão chama-se Um quarto só para mim), com tradução de Sofia Nestrovski. Tem um podcast super legal (que vocês verão sempre por aqui) que traz um episódio sobre esse lançamento e Virgínia Woolf, além de uma conversa interessantíssima sobre a vida de tradução literária, com a própria Sofia Nestrovski e Leonardo Fróes.