A poesia sob fotografia
O encontro entre Mick Rock e Rita Lee que eu gostaria de ter assistido
Durante a leitura, sugiro ouvir o disco Rita Lee de 1980.
Na semana passada morreu o fotógrafo e onipresente dos palcos, Mick Rock. Se você não conhece, nunca ter ouvido falar dele, eu aposto que já viu uma de suas icônicas fotos. Muitas delas entraram no nosso inconsciente coletivo pop muito antes de sabermos até o que era isso: inconsciente. Duvida? Então vamos lá!!!!
A capa do disco Queen II, do Queen: é dele. A foto da roqueira Joan Jett, com seu famoso blazer rosa que também foi capa do seu álbum I love Rock n’ Roll. É dele. As raras imagens de Syd Barret (primeiro vocalista e fundador do Pink Floyd). São dele. Como também é dele a direção do clipe Life On Mars, de David Bowie, e diversas fotos do camaleão do Rock.
Por coincidência, alguns dias antes dele morrer eu fui à exposição Samsung Rock Exhibition Rita Lee, no Museu da Imagem e do Som, a qual traz toda irreverência e genialidade da roqueira em formato de objetos pessoais e de palco. Um choque de cor e energia. Um privilégio em tempos de pandemia poder, ainda em vida (minha e dela), ver tanta coisa bacana sobre Ritoca.
Tenho certeza que se Mick Rock tivesse passado algum tempo no Brasil (nem sei se ele não veio em algum momento...falha da jornalista aqui. Sorry!), ele teria feito fotos incríveis de Rita e elas estariam nessa mesma exposição.
Como fã de David Bowie, Ritoca (gosto de chamá-la assim porque é assim que tia Gislana me chama e eu acho um barato) passaria horas conversando com Mick sobre o seu ídolo e sobre as centenas de milhares de histórias que ele tinha guardado na sua cabeça genial. Duas lendas juntas, como é que chamamos mesmo?
Não faço a mínima ideia, mas eu iria gostar muito de acompanhar esse encontro. Sobre Mick, conheci um pouco mais em um documentário que assisti na Netflix...não fazia ideia que uma única pessoa poderia ser responsável por tudo que ele fez.
Era meio mágico, sabe. O cara ainda muito jovem foi estudar em Cambridge, se encantou com a poesia e, entre um baseado e outro, começou a fotografar super despretensiosamente. Os primeiros cliques foram de Syd Barret, uma lenda urbana inglesa dos primórdios do rock britânicos (o cara foi apenas só um dos fundadores do Pink Floyd); depois vieram os shows, e mais shows, e algumas capas de discos, e mais fotos, e clipes...quando viu já tinha registrado grande parte da cena rock das décadas de 1960 e 70. Claro que as décadas seguinte continuaram tendo seus registros, mas com um pouco menos de vigor devido aos problemas de saúde que ele enfrentou por conta dos excessos.
As drogas já faziam parte da sua vida e quase o levou algumas vezes. Mas a paixão justamente pelo excesso e pela vida, paradoxalmente, conviviam, da mesma forma que eu imagino que acontecia com a nossa roqueira-mor Rita Lee. A jovem de classe média paulistana viu na música uma maneira de se expressar e acabou influenciando toda uma geração que estava sob o regime militar sufocada e querendo ser livre.
Depois das bandas de escola, veio o início profissional com os Mutantes...depois o Tutti-Frutti. Antes disso, a viagem para Londres (será que ela e Mick se cruzaram por lá naquele show mucho loco do Yes que Ritoca assistiu sentada da bateria da banda? Seria um máximo, hein?).
Essa bota ela trouxe dessa viagem à Londres juntamente com os cabelos vermelhos que viraram sua marca registrada até a cantora assumir os grisalhos.
Assim que voltou para o Brasil, refeita da trairagem dos ‘muy amigos’ Mutantes, Rita formou o Tutti-Frutti e começou alí a solidificar-se como compositora. Nascia nos palcos não apenas Rita Lee, mas a maior roqueira desse país. E o por mais que esse título possa parecer exagerado porque qualquer totalidade nunca é vista com bons olhos (pelo menos não para mim), me diga: se não Rita, quem é a maior expressão do rock feminino desse país?
Tenho a grande honra de ter visto bem de pertinho, de ter beijado e ouvido ela me chamar de xará...presentes que o Universo dá para gente...tudo bem que eu mereci, vai? Fiquei na fila de autógrafos do seu livro de contos a tarde inteira e na hora do vamo ver, claro que não fiquei apenas no obrigada eu sou sua fã...taquei-lhe uma beijoca daquelas com todo respeito e direito de segurança no pé.
Tá tudo registrado nesse vídeo que fiz para série As musas do Rock, episódio Rita Lee.
Uma vez andando pela Sunset Boulevard, em Los Angeles, eu encontrei uma galeria de artes dedicada à mùsica, a @mr_musichead. Não imaginava que naquele lugar quase que imperceptível eu encontraria algumas das imagens mais icônicas do mundo do Rock. Infelizmente, a pedido do dono, eu não pude fotografar lá dentro (mas fiz foto da fachada).
Era tanta coisa linda, emocionante, rara mesmo, sabe, que eu acho que eu não daria conta de tirar foto e prestar atenção no momento. As vezes quando tudo é especial precisa ficar guardado apenas no nosso HD interno.
Eu vi coisa desse tipo lá: réplicas dos negativos originais dessa sessão para a capa de Aladdin Sane, tiradas Brain Duffy. Na verdade tinha uma gigantesca parede reservada só para os trabalhos de Duffy, pois a Mr. Musichead o representava.
Infelizmente o meu salário de jornalista não dava para adquirir nada. Inclusive nessa viagem eu estava desempregada, aproveitando o seguro desemprego para realizar um sonho: ir para LA. As vezes precisamos sair da lógica para sobreviver.
Claro, que tinham muitas fotos de Mick Rock. Incrível!!! Mais uma vez o universo estava sendo brother comigo. Como não tenho fotos, segue o link da galeria para conferirem que barato.
Ainda vou fazer uma news sobre essa viagem!!! Tanta coisa maravilhosa aconteceu e quantos lugares fantásticos eu pude conhecer. Mas, lugar fantástico mesmo é aquele que criamos dentro de nós, para cultivar boas lembranças e eu tenho certeza que desse mundo, Mick levou várias. Foram 72 anos de muita poesia fotográfica. Assistam ao documentário Shot! The psycho-spiritual mantra of Rock. É uma verdadeira viagem pelo início da música underground em NY, Londres e a construção de tudo isso que conhecemos como Rock n’ Roll na mais essência e crua verdade.
Os cliques de Mick não mentiam. Na época não existia photoshop nem filtros para amenizar ou exagerar a realidade. Era tudo como era. Intenso, caótico, pulsante.
Viva Mick Rock!!! Viva Rita Lee!!! Viva o Rock!!!!