Durante a leitura sugiro ouvir "Charlie Watts Quintet"
O baixo e a bateria para mim sempre foram a alma de um som...no Rock, então...não tem como sem eles...
Puxando para a batera, tem gente que gosta daqueles toques frenéticos dos gêneros mais hards; outros curtem uma batida mais marcada, jazzística, algo à la Chalie Watts.
Não sou especialista no instrumento, muito menos crítica, mas se tem algo que todos que já ouviram Rolling Stone concordam é que Watts tinha um jeito especial de tocar. A sutileza de suas baquetas não o faziam perder o peso que tornou os Stones a maior banda de rock em atividade.
Você deve estar sabendo que Charlie morreu aos 80 anos nessa semana e que o mundo prestou todas as reverências a esse cara que Paul McCartney em mensagem de despedida na rede social disse que “he is rock”.
Foi emocionante ver os colegas de banda, de profissão, das artes em geral e fãs deixando mensagens sobre a perda. Reconhecimento, agradecimento, lembranças, todo mundo queria falar um pouquinho, mostrar que conhecia aquele baterista tão discreto, gentil, talvez o mais "low profile" da banda. Até eu entrei na onda e fiz uns stories com trechos de sua bateria marcada.
Conversando com um querido, ele revelou que estava ficando feia a nítida falta de conhecimento que as pessoas demonstravam sobre o artista. Para ele, a maioria daqueles posts era da boca para fora. Ninguém se importava com a morte de Charlie; "ninguém o conhecia" de fato para tamanha comoção.
Entendo o que ele queria dizer. Estava dentro do espectro das pessoas que usam camisas de bandas de rock sem nunca ter ouvido uma música sequer do grupo. Sobre isso, nunca esqueço em um episódio do Papito in Love (reality show da MTV brasileira que procurava uma namorada para o Supla), quando o Charada brasileiro descartou de prima uma mina que usava a camisa dos Beatles sem saber quem eram os Beatles e que aquela foto era de um disco deles, o Yellow Submarine.
É bem verdade que ela não precisa saber de nada, mas quando usamos algo simbólico em nosso corpo, subentende-se que sabemos, pelo menos, o que aquilo significa. Camisa de banda é como camisa de futebol; quem leva a sério só usa a do time de coração. Com as bandas acabando sendo mais a identificação, gosto; caso contrário fica igual a menina do Supla - um cabide ambulante.
Pois foi, mais ou menos assim, que esse meu querido deve ter sentido o excesso de comoção. Talvez até motivado por um espírito justiceiro que perguntava - onde estavam todos esses fãs enlouquecidos do Charlie que nunca o ressaltaram em vida. Sempre Mick Jagger e Keith Richards sustentaram as fotos, reportagens e tudo da banda, sejamos sinceros. Os dois são os pilares do grupo, como Lennon e McCartney, Axl e Slash, Steve e Joe, Robert e Jimmy, e por ai vai.
O que é justo também. A indústria escolhe os seus heróis e no rock os que estão na linha de frente sempre ganham mais espaço.
O que estou querendo gritar aqui é que estamos cada vez mais oportunistas, inconsequentes, papas likes...por que vou me declarar órfão de um artista, personalidade, se nunca parei para prestar atenção do cara em vida? Se for “cool”, se me render umas hastags, por quê não?
Uma coisa é "Cara, nunca prestei atenção no Charlie, mas o respeito pela banda que construiu". Outra coisa é "Perdemos um dos maiores bateristas do mundo", sendo que nunca ouviu o trampo do cara.
Segue esse desabafo influenciado por essa observação do "meu querido" . Estamos esperando as próximas fakes condulências, mas que essas venha sobre mortos de Brasília e não do Rock n' Roll.