Depois de 8 anos, Sting volta ao Brasil
Na mala grandes sucessos e uma performance irretocável
Quase pontualmente como um típico britânico, Sting subiu ao palco do anfiteatro do Parque Ibirapuera. Ao lado da dupla que o acompanha na turnê Sting 3.0, o guitarrista Dominic Miller e o baterista Chris Maas, ele apresentou um repertório formado de clássicos e novos lançamentos como I Wrote Your Name (Upon My Heart).
Há 40 anos, o The Police vinha ao Brasil pela primeira vez para um show no Rio de Janeiro. Na época o grupo estava começando a despontar nas paradas de sucesso e, de lá para cá, Sting voltou ao país algumas vezes, divulgando sua carreira solo e uma turnê especial de retorno com seus antigos companheiros de banda, Stewart Copeland e Andy Summers, entre 2007 e 2008.
Feita a escrita protocolar de qualquer resenha de show, vamos agora para a minha visão nada ortodoxa desta apresentação que tanto esperei para assistir.
Eu jamais vou me acostumar com a sensação de ouvir as minhas músicas preferidas, ao vivo, executadas por quem as gravou ou compôs. Acho que é essa dopamina que ainda me leva aos shows, porque, vamos combinar, que os ingressos (e o consumo interno) estão cada vez mais caros e a infraestrutura mais cansativa. Mas, se eu não for, como sentirei a mesma emoção de quando ouvi If I ever lose my faith in you, a primeira música do Sting que me fez querer ouvi-lo muito mais. Tinha apenas 10 anos e a conheci em um comercial de uma rádio soteropolitana - além da música, tinha o vídeo clip com aquela imagem triunfante daquele homem medieval no meio de um mar. Arrebatador.
Mas voltando ao show do último domingo, foi um tal de clássico em cima de clássico, todos muito bem escolhidos para manter o público aquecido na medida certa durante as 2 horas de apresentação. Sobre a qualidade do power trio? Que groove! Tanto nas canções mais novas quanto nas mais antigas, os três mostraram que é possível sim ter um desempenho musical espetacular dentro da simplicidade e clareza. Até nas músicas que traziam na versão original arranjos mais elaborados, tudo foi muito bem adaptado e executado. O som estava tão límpido que era fácil, mesmo com a gritaria ao redor, identificar cada instrumento, principalmente, o baixo elétrico, um Fender old school, do charmoso vocalista que entre uma frase e outra, sempre tentava se comunicar com a plateia, fosse com frases em português ou gritos monossilábicas, na batida do reggae misturado com rock, como em So Lonely.
Eu de cara, assim que cheguei, fiz amizade com a Edna, uma mulher 50+, professora aposentada, avó e que, pela primeira vez, veria Sting ao vivo. Ficamos conversando por, mais ou menos, duas horas antes do show e acabei descobrindo que Sting não é mais popular entre as pessoas abaixo de 40+, pelo ao menos, não entre as amigas que ela tem nessa faixa etária. Daí o motivo dela ter ido sozinha ao show.
É muito triste saber que a juventude não se interessa mais em conhecer os grandes artistas que fizeram história. Novamente, eu torno a me colocar como uma saudosista dos tempos de outrora, mas nada impede que as novas gerações artísticas dividam espaço com os que correram no passado para hoje elas andarem.
Vi alguns adolescentes e pessoas de seus vinte e poucos anos com os olhos vidrados no palco. Um certo alívio para quem se preocupa com o futuro do legado musical de artistas como Sting.
O que importa e emociona é o presente e o agora e na hora de Every Breath You Take, todas as gerações cantaram a plenos pulmões o grande hit da carreira do Sting. Depois de tanta energia positiva emanada, o show foi encerrado com a branda Fragile, uma maneira discreta de agradecer a todos pelo encontro e desejar um bom retorno.
…um pouco mais sobre mim e o Sting
Sting sempre teve um lugar especial entre os artistas que mais gosto, apesar de não ter me atualizado muito em relação a sua carreira nos últimos anos. Músicas, timbre de voz e a semelhança com meu pai (semelhança que eu inventei) desenvolveram um carinho bastante especial por esse artista que também se coloca no mundo como indivíduo de forma bastante generosa. Acho que a primeira vez que ouvi falar dele foi quando ele veio visitar o Brasil na década de 80 para discutir a necessidade da preservação da Floresta Amazônica e cuidados com os povos originários. Para uma criança, era muito curioso ver aquele rapaz franzino, loirinho, caminhando ao lado de um homem que tinha preso nos lábios um disco, do tamanho de um pires. Este era o cacique Raoni, figura ilustre brasileira.
Muitos anos depois, quase duas décadas, eu comecei a ler uma biografia do Sting, enquanto esperava o resultado de um processo seletivo que mudaria a minha vida para sempre: eu me tornaria funcionária pública do Estado da Bahia e graças a essa oportunidade que durou seis anos, eu paguei minha faculdade de Publicidade e Propaganda e conheci pessoas decisivas para eu iniciar a minha jornada até chegar onde estou.
Durante esse processo, quantas vezes eu li este livro dentro do ônibus BTU, indo levar e trazer documentos, fazer exames e levar resultados até chegar o primeiro dia de trabalho. Lá estava ele comigo, da Pituba ao Campo Grande, do Campo Grande à Pituba, aquele livro pesado, cuja capa era estampada apenas com a face do biografado. De alguma forma ele fez parte dessa fase.