««««««««««««««««Para leitura sugiro que ouça qualquer coisa que te faça pensar»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»>
Esses dias me peguei em um dilema. Será que eu ainda sou uma comunicóloga contemporânea? Formada em jornalismo e publicidade, com especialização em comunicação organizacional, me vejo as vezes naufragada no mar dos algoritmos que parecem subverter todas as teorias de comunicação que aprendi na Academia e na vida profissional.
A dúvida é: para onde apontar o meu leme para me guiar pela exponencial comunicação digital? (eitcha, chega rimou)
A célebre frase do filósofo francês René Decartes “Penso, logo existo”, do século XVII, é um dos mais importantes símbolos do movimento ilumista que colocava a razão acima de qualquer coisa, colocando para sempre a Idade Média no seu devido lugar, ou seja, como um período de escuridão pela falta do compartilhamento dos conhecimentos e incentivo para os mesmos.
Fiz no título dessa newsletter uma brincadeira com as palavras de Decartes porque parece que no momento que estamos vivendo, para exitir, precisamos estar conectados, ou pelo menos, usando um equipamento digital para a nossa comunicação. E não se assuste…isso vale para a comunicação com nós mesmos. Quantas vezes você deixou de lado a agenda escrita para colocar na agenda do celular um compromisso? E as anotações que poderiam render futuras produções, ficam naquele bloco de notas digitado ou falado.
Não é de hoje que a mídia exerce um poder controlador, coesivo e transformador na sociedade. Como não lembrar do impacto da invenção da prensa de Gutemberg no século XV (inclusive, sendo um dos fatores responsáveis pelo fim da Idade Média). Séculos depois, tivemos o boom das mídias eletrônicas que agora são engolidas pelas digitais. Alinhado a esse predatismo, vemos uma sociedade também se fagocitando, e o que era mais uma vez não será mais; nunca uma era foi tão transitória.
O documentário The Social Dilemma (dir. Jeff Orlowski, 2020) impactou muita gente com as revelações sobre a nociva influência que as empresas de comunicação digital, a exemplo do Facebook (agora Meta), Instagram e Youtube, tem na sociedade contemporânea, provocando malefícios que vão de danos físicos a mentais, em nível pessoal a global. Tudo foi dito por profissionais da área - inclusive muitos deles ajudaram essas empresas a se tornarem os grandes gigantes que são -, o que deixou tudo mais dramático e apocalíptico.
Como se não bastasse toda a subversão teórica, a quarta revolução industrial chegou com seu avanço tecnológico impactante em todos os setores da sociedade entrelaçada com os crimes cibernéticos que ainda não foram totalmente tipificados, o que nos deixa ainda mais vulneráveis. O dados produzidos no uso da internet, o famoso Big Data, já são considerados por especialistas em economia como o novo petróleo devido a sua fonte de riqueza e poder frente à economia e o controle social que começa a se revelar.
Quem diria que teríamos como réu o bilionário Mark Zuckerberg pai do Facebook e acusado de vender informações de seus usuários para terceiros?
Chegamos em uma nova Era: a dos dados e eles já nos manipulam da mesma forma como os smartphones faziam com suas propagandas incitantes que transformavam necessidades em desejos. Quando ouvi na faculdade de publicidade que estávamos desenvolvendo essa habilidade - transformar o supérfluo em necessário - eu decidi remar contra o destino que me era apresentado. Sabia que ser publicitária não significava ser uma fdp capitalista que só se preocupava em criar ilusões para vender cada vez mais. Resolvi colocar o meu conhecimento e curiosidade a favor da desconstrução de tudo isso.
O que fiz? Nada substancialmente, a não ser não fazer parte do mercado publicitário nem do jornalismo sensacionalista.
Hoje me encontro, mais uma vez, em uma encruzilhada. Como seguir o fluxo dos dados sem ser uma fdp capitalista? Preciso sobreviver profissionalmente e, infelizmente, trabalhar com Big Data, LGPD, analytics, social media e outros termos confusos e ainda pouco navegados é o destino de quem trabalha com comunicação como eu.
Um dos livros da minha vida acadêmica é A Cultura da Mídia, do professor de filosofia Douglas Kellner. Nele é feita uma crítica ferrenha à influência que a TV, cinema e rádio produziram na sociedade das décadas de 1950 à 1990, principalmente. Valendo-se de fatos históricos que se tornaram conhecidos mundialmente sob o âmbito político e cultural, Kellner analisa o uso, nem sempre sutil, dos meios para manipular as pessoas de modo que elas produzissem comportamentos ou respostas que atendessem os objetivos daquele grupo manipulador.
Hoje quem influencia o comportamento social não é mais a TV e sim a Internet e quem fortalece uma análise precisa sobre esse impacto sócio-econômico-cultura da era digital é o filósofo sul coreano, residente na Alemanha, Byung-Chul Han. São diversos livros trazendo essa temática a exemplo de A Sociedade do Cansaço, Sociedade Paliativa: A dor de hoje e No Enxame: Perspectivas do Digital (este, inclusive, foi o livro solicitado para preparado da prova de mestrado do curso de ciências da comunicação da ECA/USP há dois anos, mais ou menos).
Então, senhorxs, o fato é que não adianta só lamentar. É preciso correr atrás das novidades que estão cada vez mais efêmeras. Essa efemeridade, na minha opinião, é que dá a ansiedade; hoje não queremos nem querer perder tempo pensando. Tudo bem que o nosso cérebro está sendo condicionado a não perder mais tempo mesmo: estão aí as telas touch que nos mostra tudo com apenas o dedo indicador mexendo-se para cima e para baixo para atualizar o momento. As músicas estão mais curtas, os filmes com menos diálogos e mais imagens, os jornais de papel perdendo espaço para as versões digitais, os streamings criando tentáculos onde nunca se imaginou criar - quem pensaria há 20 anos que a Globo teria um canal digital para apresentar seus novos e antigos conteúdos?
É a concorrência queridxs!!!