«««««««««««««««««ler ouvindo o álbum Low, David Bowie»»»»»»»»»»»»»»»»»»»
Essa semana, o passado veio me visitar em forma audiovisual. Duas histórias reais que marcaram muito minha infância ressurgiram com tudo. No entanto, uma foi uma tragédia e a outra saiu das ruas de Berlim de 77 para as páginas de um livro e depois para o cinema, havendo vida depois das trevas.
O filme "Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída" está completando 40 anos. Para celebrar essa produção alemã dirigida por Ulrich Edel, o longa voltou a algumas salas de cinema, remasterizado, trazendo toda a angústia daquelas cenas que mostram a história real de uma jovem da antiga Alemanha Ocidental que se vicia em heroína e acaba se prostituindo para manter o vício que por pouco não a mata.
Lançado em 1981, eu só fui ter contato com o filme mais de uma década depois, mais ou menos, em 1995 ou 1996, quando eu tive acesso a uma fita pirata de VHS de colegas da escola. A essa altura eu já tinha lido escondido ao livro homônimo, uma biografia da jovem Christiane Felscherinow que tinha o grande sonho de assistir a um show de David Bowie, que na década de 1970 morou em Berlim, onde produziu a sua trilogia. É dessa fase o disco Heroes!!!
Bem, tanto o filme quanto o livro me marcaram porque até então eu não tinha contato nenhum, mesmo que didático, como o assunto drogas. Sabia que no colégio algumas pessoas fumavam maconha, bebiam já feito gente grande, mas nada comparado ao que eu vi no filme. Foi um choque absolutamente positivo para mim porque através daquelas cenas que ainda são capazes de me chocar eu jamais quis ficar próxima de qualquer substância que pudesse me tornar aquilo que se tornou Christiane e seus amigos, apenas de, paradoxalmente, ter a influência dos artistas de rock.
Na real, acho que toda criança e adolescente devem ler e ver o livro e o filme.
Na minha época era tudo muito escondido porque só o título já denunciava que o seu conteúdo não era apropriado para jovens meninas da classe média. Mas quando uma conseguiu o livro, foi rápido o seu compartilhamento. tiveram aquelas que não se interessaram, mas eu e mais duas ou três ficaram na pilha.
Em 2016, resolvi reassistir ao longa. Tava muito frágil com a morte de Bowie e tudo que tinha sua presença eu queria ver. Putz!!! Acabei destruída!!! É muito impressionante como Edel conseguiu extrair daqueles jovens atores amadores a dor do vício, levando até os espectadores uma atmosfera completamente degradante, uma Berlim traumatizada ainda pelo pós-guerra que não tinha nenhum olhar para a sua juventude e que passou a encarar o problemas das drogas e da prostituição entre os jovens a partir do lançamento do livro com a história da Christiane.
Talvez a parte mais leve de tudo seja as cenas de David Bowie que também assinou a trilha da produção. Tô pensando se vou levar esse soco no estômago novamente...tem um cinema de rua daqui de Sampa que está passando…
Agora o que é esse documentário "Pacto Brutal: O assassinato de Daniella Perez"? Para quem viveu e se lembra desse crime, ao assistí-lo, irá se colocar naquele final de 1992 tentando entender o que havia acontecido com aquela jovem atriz que foi morta pelo seu colega de elenco e esposa.
Eu lembro muito porque eu adorava De Corpo e Alma, novela que Daniella fazia juntamente com o assassino. Formando o triângulo amoroso estava meu crush eterno Fábio Assunção, por isso minha idolatria ao folhetim.
A trilha sonora desse momento era o tema de Yasmim (personagem de Daniella) - Wishing on a Star (Cover Girls) e na tv as pautas se dividiam entre esse crime e a renúncia do Collor.
ps.: eu tinha um walkman rosa que minha tia Lydia trouxe de uma viagem do exterior e eu ficava ligada nele 24h esperando tocar na Transamérica duas músicas: Wishing on a Star e Yesterday (Guns n´Roses).
Eu tinha uma revista Veja que tratava desses dois assuntos, com fotos da cena do crime e da casa da Dinda - residência do então presidente do Brasil.
Quantas manchetes mais colocaram a vítima quase que como culpada pelas punhaladas, pois davam asas às mentiras que o assassino falava de um suposto envolvimento dela com ele. Claro, que o Brasil seria Brasil, né gente? Se hoje o machismo ainda faz isso, imagina há trinta anos.
Eu lia e relia aquela matéria. Lembrei de uma foto linda da Dani com uma blusa de tule preta - moda na época. Brincava de ser jornalista falando da minha cabeça o que eu entendia daquela cobertura, enfim, por alguns dias aquele assassinato fez parte da minha rotina.
Rever com detalhes - muitos deles nunca antes revelados, toda essa história macabra foi meio pertubador. Em poucas horas, durante a noite, matei o documentário e ao dormir sentir certo desconforto porque tudo é muito pesado.
Quando o crime aconteceu eu tinha 09 anos. Não tinha muita noção sobre a dor daquela mãe. Ouvir Gloria Perez dizer como foi perder sua filha de forma tão violenta e torpe, também foi muito angustiante. Eu sempre ficava repassando na minha cabeça: cara, se fosse comigo eu não teria essa força. Como ela conseguiu viver depois dessa tragédia?
O pior é que a gente vê todo dia nos noticiários essa força materna. Mulheres que perdem seus filhos de forma banal, brutal e seguem porque ser mãe é algo inesplicável. Admiração a todas elas!!!
É nojento ver o casal assassino planejar tudo aquilo por cobiça, inveja, desprezo. É doloroso ver uma família ser destruída.
Tanto "Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída"quanto "Pacto Brutal: O assassinato de Daniella Perez" são conteúdos fortes, difíceis de digerir, porém necessários.