»»»»»»»»»Leia ouvindo: Brilliant Adventure.«««««««««««
Como eu queria que isso fosse mentira. Que a morte de David Bowie fosse uma daquelas fake news danada, criada não sei onde, nem por quem. Mas infelizmente, não é.
Lembro muito bem daquela manhã de 2016 quando acordei para trabalhar e, seguindo meu hábito errado de sempre, fui acessar o celular enquanto fazia xixi. Putz!!!! David Bowie morreu!!!
Que dia triste…fui trabalhar com aquele nó na garganta. Uma sensação bem estranha: estava sentindo luto por alguém que nunca vi pessoalmente, conversei, que nem sabia da minha existência. Ligações inexplicadas com pessoas inusitadas.
A latência desse dia talvez tenha sido porque eu estava numa fase muito imergida na obra dele. Bowie havia entrado na minha rotina desde quando cheguei em São Paulo. Tomei a minha visita a sua exposição no MIS, logo quando cheguei (em 2014), como um “boas-vindas” da cidade e sempre quando me sentia pra baixo, reflexiva, com medo, eu buscava em suas músicas um reforço para seguir.
E eu segui, enfrentei várias pedreiras, como desemprego, separação, ansiedade, tudo sempre embalado pelas suas canções. Life on Mars, que está tocando agora enquanto escrevo, me remete àquela sensação de pavor e descoberta, entre 2014 e 2016.
Mas Bowie não estava presente só nos momentos tristes, não. Fui para muita farra com ele…de carnaval à show com atrações internacionais. Aqui em SP, descobri e fui em um bloquinho carnavalesco para homenageá-lo: o finado Tô de Bowie. Foram dois carnavais fazendo clássicas maquiagens dele.
Essa é uma das minhas fotos preferidas da vida!!!
Em 2018, fui para um tributo gringo chamado Celebrating David Bowie aqui em SP. Que show!!! Adrian Belew, guitarrista do King Crimson e de alguns discos de Bowie, estava no palco ao lado de outras feras como o cantor e saxofonista Angelo Moore. Uma figura"!!!
Nessa época eu ia para tudo que tinha o nome dele. Foi no show do André Frateschi cantando Bowie, em um domingo na Paulista, que tomei uma das decisões mais difíceis na minha vida: recomeçar só, em uma cidade gigante.
You can be heroe just for one day!!!!
E como fui heroína!!! Dia após dia, lágrima após lágrima, sorriso após sorriso, ever and ever…sempre com ele do meu lado e sei que continuaremos essa caminha juntos!
Hoje David Bowie completaria 75 anos. Ainda sou meio inconformada com a sua morte. Queria ter assistido um show, o entrevistado, o ter visto por algum segundo que fosse. Como sua presença artística faz falta nesse mundo careta, tedioso, cafona e previsível.
Previsibilidade e David Bowie são coisas que nunca tiveram relação.
Quem diria que ele antes de morrer deixaria um disco desabafo para seu público? Seria tão e mais uma vez surpreendente a esse ponto: um último trabalho de estúdio, o vigésimo sétimo, Blackstar, trazendo uma explicação ou análise sonora para tudo que passou desde a descoberta do câncer que o matou em 2016. Claro que assim como aconteceu ao longo da sua carreira, especulações e mitologias continuariam com esse disco que foi cercado de muitas teorias e curiosidades. A primeira delas é o lançamento no dia do seu último aniversário, em 08/01/2016. Dois dias depois ele morreria, aos 69 anos.
Ironia desagradável do destino: um presente de despedida para o público. Como em um caça ao tesouro, alguns fãs analisaram minunciosamente cada palavra, frase. A medida que tudo era repassado, as mensagens e os símbolos surgiam, como seu último personagem, Buttons Eyes (olhos de botão), figura dramática que aparece nos clipes Blackstar e Lazarus.
Essa figura bizarra seria a morte? No passado, pessoas que usavam os olhos vendados como o personagem de Bowie nesses dois vídeos estavam condenados à morte, na certa, como David se sentia condenado por conta da sua doença. Saberia então ele que morreria em breve sendo esse seu último disco? Queria o camaleão do rock fazer o seu próprio disco "post mortem”ainda em vida? Mas como isso seria possível se ele ainda estava vivo?
Para David Bowie, quando o assunto era arte e criatividade, nada era impossível.
Buttons Eyes é o David Bowie morto!!! Não em matéria, mas em alma. Teria o câncer corroído toda a esperança de vida?
As frases encontradas na letra de Blackstar “How many times does an angel fall? e “i’m a blackstar” ou, respectivamente, “quantas vezes um anjo cai?” e “eu sou uma estrela preta” podem responder essas questões, uma vez que elas também podem ser interpretadas como uma referência as tantas vezes que Bowie caiu na vida se reeeguendo depois (problemas sérios familiares, drama com as drogas, a própria doença), mas que agora ele chegava ao seu destino final, saindo desse planeta e se tornado um ponto de luz.
A cena do clipe onde aparece um astronauta caído justifica essa teoria, uma vez que aquele Bowie jovem e saudável astronauta do passado visto no clipe de Space Oddity, cheio de sonhos, idealismo, vida agora era um homem cansado, profético, um messias do seu próprio mundo, ou melhor, da sua própria morte.
Em Lazarus, na cama, tento alucinações e vestido com um traje listrado, referência à contra-capa do disco Station Station (talvez um dos mais difíceis dele ter realizado devido ao grande consumo de drogas), Bowie diz: “Olhem aqui para cima, estou no paraíso ”.
Eu confesso que a noite quando ouço uma de suas músicas, eu sempre olho para o céu na tentativa de identificar qual daquelas é a sua estrela. ☆
Que texto maravilhoso.. Fico pensando em como nós seriamos se não tivessemos algo em que nos prender nos momentos de tristeza? O quao é importante a existencia de determinadas pessoas para nos ajudarem. A análise de seu recomeço através de musicas, de letras e de interpretações foi muito feliz e de certa forma me fez refletir. Muito bom.. Parabéns!!