Se estamos em crise, como os festivais de música estão lotados?
Essa semana uma amiga me chamou para ir ao Rock in Rio. Ela quer ver a homenagem à Elza Soares e eu já não tenho vontade de me meter nesses festivais de música caríssimos e exaustivos.
Nunca fui ao Rock in Rio e poderia enfrentar esse rolê caro e cansativo para ver o Guns n´Roses pela quinta ou sexta vez. Mas, não! Dessa vez eu passo e estou achando que passarei outros festivais e shows internacionais.
Antes da pandemia eu era arroz de festa, ou melhor, arroz de show de rock. Fui para vários: Slash, Black Sabbath, Metallica, Pearl Jam, Ozzy, Aerosmith, Bon Jovi, Radiohead, Sepultura e por aí vai. Não me arrependo. Sempre quis assistir as bandas que curto e morando em SP isso fica muito mais fácil e barato (pelo simples fato de não precisar pagar passagens de avião e hospedagem, o que eu fazia quando morava em Salvador).
O problema (se isso pode ser visto como um problema) é que agora vejo que não faz mais sentido para mim gastar tanta grana para assistir as mesmas coisas e muito menos me desgastar naquela confusão – que vamos combinar – que é um show de rock: caos na chegada e saída, bebida cara e quente, banheiro cheio e sujo, celulares atrapalhando a visão do palco...Ufa!!!! É muito estresse que pagamos caro para sentir.
Contudo, todavia, entretanto (rs) todos esses perrengues perdem força quando leio que a minha banda preferida estará de volta em Setembro, mais conhecido como mês do meu aniversário. Enquanto escrevo essa newsletter, saiu nas redes sociais que amanhã abrem as vendas dos ingressos para o show do Guns em SP e o coração já ficou a mil.
É paradoxal com tudo que escrevi até aqui? É!!! Mas Guns não consigo resistir, mesmo sob protesto!
Com valores de R$ 190 a R$ 950 voltamos ao ponto do alto custo de manter esse hobby cultural, no entanto, quando gostamos de algo vale a pena investir por aqueles momentos, principalmente, se usamos como mais um argumento “o show será meu presente de aniversário”.
Em plena crise que estamos passando me sinto mal em pensar em desembolsar essa grana enquanto existem pessoas passando fome. De verdade considero um luxo esse tipo de entretenimento diante da situação miserável do nosso país. Por outro lado, tento encarar que , de certa forma, faço a minha parte para reduzir um pouco essa realidade, precisando dessas válvulas de escape para toda essa tensão social e política que vivemos.
Vi muita gente comentando (inclusive eu) sobre onde estaria a “tal crise” econômica que estamos passando, uma vez que os festivais de música estão esgotando seus ingressos em horas de vendas. O Lollapalooza, realizado de 25 a 27 de março, no autódromo de Interlagos (SP), tinha entrada entre R$ 720 (meia) a R$ 1440 (inteira). Lotado!!!
O Rock in Rio, marcado para (2, 3, 4, 8, 9, 10 e 11 de setembro), só tem um dia com ingressos disponíveis. Vale lembrar que ele é apenas um pouco mais barato do que o Lolla Brasil: as entradas vão de R$ 312,50 (meia) a R$ 625 (inteira).
Da onde esse povo tira dinheiro se acompanhamos nas redes sociais, telejornais e na vida real reclamações sobre o preço da carne, gasolina, gás, luz, aluguel, tomate, batata...?
Na verdade não há dinheiro; há cartão de crédito. Tá todo mundo tão sofrido, angustiado e com medo desse futuro incerto que nos aguarda que a ideia é aproveitar o momento porque depois pagamos os boletos. Ouvi isso hoje de um colega de trabalho.
Tá tudo tão embaralhado que o que nos resta é o carpe diem!!!!!!
É igual aquele meme (ou vídeo) do Tik Tok: é aí que mora o perigo...o que é um peido para quem já está fu....?
Por isso os festivais caríssimos continuam lotados. É por isso que os aeroportos continuam cheios mesmo com as passagens mais caras 20 e tantos por centos. É por isso que os destinos internacionais continuam em alta mesmo com o dólar, o euro e a guerra na Ucrância deixando a nossa vida mais cara e perigosa. Todos querem viver o que ainda é possível viver. Aproveitar, sabe?