Todo mundo tem uma Marília para chamar de sua
Talvez você curta conhecer a minha mais nova antiga obsessão. Chama-se Marília Medalha. A cantora, atriz e compositora brasileira, que iniciou carreira na década de 1960, há muito tempo faz parte do meu radar das grandes cantoras nacionais, mas foi por causa da nova novela das seis que eu voltei a cair a seus pés.
Se você está acompanhando No Rancho Fundo, comédia romântica escrita por Mário Teixeira, já percebeu que além das histórias divertidas e de muita luta da nordestina família Belmont Leonel Limoeiro e dos habitantes da fictícia cidade de Lasca Fogo, a trilha sonora é um capricho a mais que se integra a toda produção artística do folhetim.
Entre as músicas inéditas e antigos sucessos regravados, está a gigantesca Ponteio (música de Edu Lobo e letra de José Carlos Capinam), faixa que me fez vibrar quando tocou acompanhando as imagens do sertão da Paraíba, onde passa a história. Para quem não se recorda, Ponteio foi apresentada em 1967, no III Festival da Música Popular Brasileira (da TV Record), na voz de Marília Medalha e, 50 anos depois de ter dado o prêmio a Capinam e Lôbo, este a regravava, ao lado de Zé Renato (cantor e compositor de mão cheia), especialmente, para a novela.
Óbvio que eu só fui conhecer essa música décadas depois do III Festival da MPB, mas a sensação que tenho é que ela também seria a minha preferida daquele concurso, que também teve como participantes Domingo no Parque (Gilberto Gil), Roda Viva (Chico Buarque) e Alegria, Alegria (Caetano Veloso).
É um poder inexplicável que essa música tem sobre mim. Não sei se é a letra, se é o arranjo pungente. Só sei que esse feitiço “me foi” jogado pela Marília Medalha e agora volta tudo que estava adormecido, principalmente, as histórias que tenho com essa canção.
Uma delas aconteceu há quase 20 anos. Eu estava em um date em um restaurante italiano maravilhoso que ficava no bairro da Federação, em Salvador. Estava indo tudo bem até que veio a danada da introdução de Ponteio.
Surgiu do nada. Certamente, depois de uma canção italiana ou de outro gênero que combinasse com aquele ambiente. De repente, eu me vi tal qual Chicó, nessa cena do filme O auto da Compadecida? Era eu todinha, só que sentada.
Naquele momento, eu senti o feitiço agindo. Mas é magia é do bem. É aquele comichão que dá quando sentimos saudades (e nem precisa saber do quê); é a vontade de sair dançando, cantando, sem se preocupar com vergonha ou qualquer julgamento. Todo mundo tem uma música assim. Eu tenho várias, cada uma para uma vida que eu tive.
Conheça mais sobre Marília Medalha.
Nascida em Niterói, em 1944, Marília sempre gostou de música. Desde muito pequena seu pai a gravava cantando e o hábito de soltar a voz lhe acompanhou por quase uma vida inteira. Depois da participação no III Festival da Música Popular Brasileira, dividindo os vocais de Ponteio, como Edu Lobo (co-autor da canção), o canto de Marília saiu dos encontros de jazz entre amigos para a história da MPB.
Discos foram gravados. Parcerias foram formadas e até hoje Marília é lembrada como uma das grandes expressões vocais daquele grupo de artistas surgidos nos anos 60. No teatro, ganhou prêmio como atriz revelação pela participação na terceira montagem do Show Opinião, fazendo o mesmo papel que Nara Leão e Maria Bethânia realizaram com maestria 10 anos antes. Com Vinícius de Moraes compôs e deixou registrada essa inusitada parceria em discos, como este.
Afastada dos palcos há alguns anos, um pouco da história de Marília é possível ser conhecida através dela mesma, nesse mini-doc caseiro (em 03 partes no Youtube) , onde a própria esbanja uma memória impressionante e mantém viva a personalidade forte que a acompanha até hoje.