Uma montanha-russa chamada Janeiro
……..Para ler ouvindo Wild Horses, Rolling Stones.
Aconteceu tanta coisa em janeiro, que foi difícil de acompanhar. Altos e baixos marcaram os 31 dias que mais pareceram 365, então, talvez você curta!® ver meus insights sobre alguns dos principais fatos que aconteceram e que prometem marcar 2025 já de cara.
E não é que a vida presta?
Mesmo faltando um pouco menos de 500 dias para a próxima Copa do Mundo, o Brasil já está em clima de comemoração de final de campeonato. No caso, o time em campo, que está prestes a levantar o caneco (melhor, o Oscar) é o Fernanda Torres Futebol Clube, cuja a camisa tem um brasão com a frase “A vida presta e muito”. Depois de ganhar o Globo de Ouro como melhor atriz de filme de drama e outros prêmios tão importantes quanto este, a exemplo do Satellite Awards, a atriz carioca, muito conhecida no Brasil por seus trabalhos na televisão, principalmente na comédia, mais uma vez fez o país rir, só que agora a risada também era de orgulho.
Depois de 25 anos, um filme brasileiro volta a ganhar o Globo de Ouro e tem grandes chances de levar uma estatueta do Oscar, já que “Ainda estou aqui”, dirigido por Walter Salles, foi indicado em três categorias: Melhor Atriz, Melhor Filme Internacional e Melhor Filme. É inédito no Brasil o mesmo longa concorrer em três categorias. Em 1999, Central do Brasil, também dirigido por Salles e protagonizado por Fernanda Montenegro (mãe de Fernanda Torres), foi indicado em duas categorias (Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz), não ganhando nenhuma das duas estatuetas.
Coincidência ou não. Vinte e cinco anos depois, mãe e filha, repetem o que aconteceu apenas com Judy Garland e sua filha Liza Minelli: ambas foram indicadas a mesma categoria de Melhor Atriz no Oscar.
“Ainda Estou Aqui" chegou na hora certa, quando o Brasil ainda se encontra polarizado e, inacreditavelmente, flertando com ações antidemocráticas que colocam vidas por um fio. A história real de Rubens Paiva e sua família é condensada na figura de Eunice Paiva (Fernanda Torres), uma mulher que enfrentou todos os riscos da ditadura militar para saber o que tinha acontecido com seu marido, deputado federal preso pela repressão em 1971.
Agora, olha que sensacional!!! O que mais o brasileiro ama além do futebol? Acertou se você disse carnaval e será, em um domingo de carnaval, que acontecerá, em Los Angeles, a cerimônia de entrega do Oscar. Diz aí se o roteiro para essa vitória do cinema brasileiro não parece desfile de escola de samba de tão sincronizado que está.
Desta vez David Lynch ultrapassou a cortina vermelha
Ao mesmo tempo que Los Angeles pegava fogo, David Lynch deixava esse plano. Quanta simbologia reunida nessa frase que infelizmente não faz parte de nenhuma criação surreal dele. Lynch, um dos diretores que mais criou sobre LA, falando sobre o seu lado obscuro tão quanto mítico, deu adeus para tudo e todos. Claro, que ele já estava doente fazia um bom tempo com seríssimos problemas no pulmão, mas para nós, crédulos no que os olhos não veem, achamos que ao saber que Los Angeles estava em chamas, pensou que fosse um sinal para ele desistir desse mundo mais bizarro do que seus contos.
David Lynch me atraiu por ser estranho e inventivo. Um Salvador Dalí da sétima arte. Uma Björk da música. Único como só ele poderia ser. Depois do fracasso que foi o filme Duna, em 1984, muita gente apostou que ele escolheria o lado mais convencional de produzir. Quebraram a cara. Ele veio com Twin Peaks, uma das coisas mais perturbadoras que poderia passar na televisão no início dos anos 1990. As pessoas não estavam preparadas para aquela série, mas todos queriam saber quem matou Laura Palmer. Foi um sucesso e ,a partir de então, ele voltou pro game, mais estranho do que nunca e praticante de meditação transcendental.
Quem mais poderia ser amigo de tanta gente genial e estranha ao mesmo tempo? David Bowie, Sting, Patty Smith, Lana Del Rey, Mike Patton e tantos outros artistas que eu admiro tiveram o prazer de conviver com ele, dividir trabalhos e um pouco de sua história de vida nada convencional (isso é história para depois). Já pensaram uma festa organizada por Lynch com toda essa galera?
Mas enfim...que bom que vivi na mesma época que David Lynch e pude acompanhar suas produções ainda em vida!
Obrigada, dear old stranger!!!
Sr. Trump, o mundo dá voltas. Si ligue!
Se fosse uma cena de filme, poderíamos dizer que a posse do presidente dos EUA, Donald Trump, saiu de um roteiro bizarro de David Lynch. É impressionante como Trump casa perfeitamente com aqueles personagens caricatos, que amam armas, comer frango com as mãos e bater na bunda das garotas para dizer que são os caras do pedaço. Quem assistiu Sr. Stranger, de Stanley Kubrick, vai lembrar do cowboy montado em uma bomba atômica como se estivesse montado em um touro. Diga aí se não é Trump todinho?!
Mas, infelizmente, o que estamos presenciando desde 20 de janeiro não é um filme. É a mais pura realidade que bate em nossas portas trazendo uma nova fase: a Era das Trevas Digitais. Que medo de ver ao lado de Trump os homens mais ricos e influentes do mundo. Todos aqueles que detém o controle sobre a tecnologia da comunicação. Vocês já viram o caos que fica quando uma dessas plataformas digitais sai do ar? Lembram do bug que deu no ano passado em um sistema da Microsoft? O mundo, literalmente, parou. Já pensaram no estrago que esses homens podem causar sob influência de Donald Trump? Mas o pior ainda não é isso.
Enquanto as IAs chegam revolucionando a sociedade, um novo processo de racialização dá o tom inicial do que será o segundo governo Trump. Um caça às bruxas, desde que elas sejam imigrantes nos EUA.
O trágico que não é cômico é que a própria mãe do atual presidente estadunidense já foi imigrante. Vindo da Escócia, a Sra. Mary Anne Trump, chegou nos EUA em 1930, com apenas 50 dólares nas mãos.
Quem diria que o filho desta mesma senhora ,que só regularizou a situação doze anos depois de sua chegada em 1930, seria o carrasco dos imigrantes nos EUA. Como o mundo dá voltas.
Democratização digital mais profunda. Será?
Vamos torcer que mais startups como a DeepSeek surjam e democratizem, de verdade, o acesso à informação tecnológica, quebrando argumentos que fortalecem o colonialismo digital vivido atualmente. A China, país sede da DeepSeek, seria uma espécie de salvadora? Claro que não! Mas ela chega trazendo alternativas para que bilhões de vidas não fiquem nas mãos de pouco mais de meia dúzia de gente. Parece que dados já foram vazados pela DeepSeek. Mas isso também aconteceu com a Meta quando ainda era Facebook e nem por isso as pessoas pararam de usar a plataforma.
Neste momento de grandes experiências, onde o ser humano acaba sendo um tipo de cobaia indireta, é preciso ficar bem atento para tudo que nos é apresentado como salvação e único caminho. Parece papo de religião, mas não é; apesar de ter gente que endeusa figuras como Elon Musk, Jeff Bezos e outros magnatas da tecnologia. Aliás, eles próprios devem se achar deuses, ou pelo ao menos, semideuses. E agora, quem ou o quê será o Zeus para essa deuses hi-techs.
Para não ficar parecendo papo de maluco, com mania de teoria da conspiração, leiam o livro Colonialismo Digital: por uma Crítica Hacker-fanoniana, de Deivison Faustino e Walter Lippold. Com certeza depois da leitura tudo ficará mais claro, fará sentido e a sua relação com a tecnologia da comunicação não será a mesma, seja ela como for.
Por fim, mas não menos importante
No dia 29 de janeiro tivemos notícias de duas fortalezas do punk rock. Do lado inglês, soubemos da morte de Marianne Faithfull, uma das mulheres mais icônicas da década de 1960. Amiga de pessoas como Mick Jagger (de quem foi namorada) e Kaith Richards, Marianne cantou, atuou e ditou tendências. Fez coro para os Beatles, foi Ofélia de Shakespeare nos cinemas e, já próximo da virada do milênio, participou da gravação da música e do clipe de The Memories Remains, do Metallica. Foi das mãos dela que Jagger recebeu o livro O Mestre e Margarida, fonte de inspiração para o clássico dos Stones, Sympathy for the Devil.
Marianne morreu em casa, ao lado de familiares.
No mesmo dia, só que no Brasil, mais especificamente em São Paulo, no Teatro Cultura Artística, Patti Smith encerrava, prematuramente, a sua primeira apresentação no local devido a um desmaio no meio do palco. A cantora e escritora já havia se queixado de dores na cabeça na manhã daquele dia e mesmo assim, foi se apresentar para uma plateia lotada. Os ingressos das duas apresentação (29 e 30/01) se esgotaram em minutos gerando muita reclamação nas redes sociais.
Voltando a saúde de Patti, ela está bem. Depois do desmaio voltou ao palco em uma cadeira de rodas para se despedir e cantou à capela Wings e Because the Night. Depois, foi levada direto para o Hospital Sírio Libanês. Apesar do susto e dela está realmente passando bem, a segunda apresentação foi cancelada, assim como os demais compromissos que ela teria em São Paulo.
Que janeiro foi esse??? Que fevereiro venha mais brando feito a brisa do mar, onde mora Iemanjá. Odoyá!!!