Vai dar tempo dos irmãos Gallagher chegarem no Brasil?
Quem conhece sabe que tudo pode acontecer nesta turnê, inclusive nada
Essa semana um dos mais indigestos jejuns musicais (pelo ao menos para os fãs) chegou ao fim. Faltando um dia para completar 15 anos de separação, o grupo Oasis anunciou no último 27 que retornará aos palcos. Quatorze shows pelo Reino Unido e Irlanda já estão confirmados e com datas de vendas marcadas para iniciarem hoje (31). As apresentações acontecerão entre julho e agosto de 2025.
Indo na contramão de grandes artistas, que nos últimos anos vêm realizando turnês de despedida - como as recentes e esgotadas temporadas dos irmãos Caetano Veloso e Maria Bethânia - os irmãos Liam e Noel Gallagher estão de volta aos palcos, como promessa de levar a turnê de retorno para o mundo.
Aqui no Brasil, o último show da banda formada também por Andy Bell e Gem Archer, foi em 2009 e quem esteve presente em uma das quatro apresentações pelo país (Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre) não poderia imaginar que estava vivendo um momento histórico da cultura pop mundial: aquela seria a última turnê do grupo inglês considerando um dos maiores fenômenos musicais do final do século passado.
Soa estranho falar assim, né? Final do século passado. Mas essa é a história (desculpe o trocadilho). Eles despontaram para o sucesso com o álbum (What's the Story) Morning Glory?, em 1995, sendo a ponta do iceberg de um tal de Britpop. Para quem não se lembra ou ainda não era nascido como eu (brincadeirinha), Britpop foi um movimento cultural originado no Reino Unido em meados da década de 1990, cujo auge foi justamente próximo do desbunde do Oasis (entre 1995 e 2000). Outras bandas como Blur, Pulp, Supergrass e Muse também faziam parte desse coletivo que vivia sob duelos. O mais famoso: a “batalha do Britpop” entre (ora quem) Oasis e Blur.
Voltando ao retorno do Oasis, eu só tenho uma coisa a dizer: “não vai ter pra quem queira”. Será um dos shows mais disputados do globo, senão o mais. Seja pela nostalgia dos fãs antigos, pela curiosidade dos mais novos, seja pelo o que for. Quem gosta de presenciar esses retornos triunfais não perderá essa chance e também não se importará de ficar horas em pé ou na frente de um dispositivo (ou de vários aos mesmo tempo, como eu faço) para conseguir comprar um ingresso.
É bem verdade que o valor desses mágicos bilhetes pode impedir que muita gente tenha o prazer de ver os dois irmãozinhos juntos novamente, ao vivo, no mesmo palco. Depois desse hiato de 15 anos, é bem possível que o preço seja bem salgado. É bem possível que eles passem pela América do Sul mais para o final de 2025 ou primeiro semestre de 2026 (considerando as datas que já estão marcadas na Europa como informei lá em cima), o que nos dá tempo de guardar uma graninha.
Ah! Outra coisa que não podemos esquecer de fazer. Isso talvez seja o mais importante de tudo: torcer, rezar, orar, fazer preces e promessas e tudo mais para que Liam e Noel não briguem feio novamente antes ou no meio da turnê. Já tem até casa de aposta especulando quando isso vai acontecer. Tomara que isso não aconteça antes deles voltarem ao Brasil.
Mas por que eles brigaram?
Tudo aconteceu em 28 de agosto de 2009, em um festival de rock, em Paris. Ou melhor, o bagulhou explodiu nesse dia porque quem assistiu ao documentário ______________ sabe que eles não se entendem desde criança.
Simplesmente, diante da impaciência absolutamente legítima da plateia, o diretor do festival pegou o microfone e disse: "Liam e Noel se desentenderam, a banda não existe mais". Pronto! Chegava o fim de uma Era.
"Naquela época, a área VIP a que a imprensa tinha acesso ficava bem ao lado dos camarins, simplesmente separada por uma divisória de bambu. Em um certo momento, ouvimos barulhos estranhos, gente gritando, uma espécie de estrondo" (Olivier Nuc, repórter do jornal francês "Le Figaro" que estava a poucos metros do camarim da banda)
Dizem as más línguas da época que Liam chegou a quebrar uma guitarra preferida do Noel, que anos depois foi leiloada por quase 390 euros. Na noite, no site da banda, uma declaração oficia do próprio guitarrista e compositor da banda colocava fim, com ‘alívio’ ao que foi a maior fenômeno musical do estilo rock do final dos anos 90 / meados dos anos 2000. Veja mais detalhes da fatídica noite aqui.
Minhas relação com Oasis
Como as coisas mudam! Eu nunca fui muito de Oasis. Achava o som bacaninha, mas os irmãos Gallagher tiravam qualquer possibilidade de eu querer conhecer melhor a banda. Nunca neguei que o grupo é ícone de uma geração e dono de incontáveis hits, mas o excesso de carisma do Liam e o mau humor do Noel me confundia : um dia eu gostava, no outro detestava.
Lembro que época da pandemia, trancafiada em casa, eu coloca muita música dos anos 90 para animar minha rotina de trabalho, limpeza, limpeza e trabalho. Morava com uma amiga que sempre foi fã da banda e por isso sempre acabávamos ouvindo mais do que uma música do Oasis. Era legal porque relembrava de várias canções que fizeram parte, de alguma forma, da minha adolescência, principalmente, por causa da MTV. Não tinha um Top 10 que eles não estivessem nas primeiras colocações.
Nunca tive um CD do Oasis, mas ganhei uma coletânea do Programa Livre que tinha Champagne Supernova. Participei de uma brincadeira do programa em 1998 (eu acho) quando foi gravado em Salvador. Ainda saí com um autografo do Tony Bellotto, guitarrista dos Titãs, e uma palheta do Herbert Viana (essa eu tenho até hoje). A prova está aí (a partir de 32:40)
Mas voltando ao Oasis, eu tinha uma profunda implicância. Eles eram igual ao Los Hermanos no quesito termômetro de audiência: quem gosta, ama; quem não gosta, odeia. Mas eu estava no meio termo, não amava, nem odiava, apenas não entendia o que tanto as pessoas viam naqueles caras. Seria algum tipo de complexo psicológico coletivo que afagava o desejo de termos algo parecido com os Beatles? Essa acho que nem Freud explicaria!
Fico contente que novas gerações estejam conhecendo o Oasis. Graças à tecnologia, como as redes sociais, muita gente que nem era nascida quando eles surgiram e ganharam o mundo tem a oportunidade, entre um vídeo e outro do TikTok, de conhecer o som dos britânicos. Até pouco tempo, Stop Crying Your Heart Out era hype na plataforma que mais vicia pessoas pelo mundo. Será que isso já fazia parte de alguma estratégia de marketing de lançamento dessa turnê de retorno? Nunca duvide do poder dos algoritmos.
Ah! Não posso esquecer o golpe fatal para eu querer distância dos “irmãos enxaqueca”: no Rock in Rio III, em 2001, a banda tocou no mesmo dia do Guns n´Roses, headline da noite. Foi naquele lamentável domingo do episódio com que Carlinhos Brown foi agredido com latinhas. Antes da apresentação e já cheio de polêmicas (relembrem aqui história do pânico no avião para o Rio), Liam deu declarações na coletiva de imprensa debochando do Guns. Segundo ele, o mundo seria bem melhor sem o Gn'R e no mundo só existiam duas bandas: Oasis e Black Crows. Se ferrou!!! Os fãs do GN'R que estavam assistindo os britânicos começaram a cantar várias músicas da banda de Axl Rose enquanto eles cantavam seus grandes sucessos de forma morna e burocrática. A última canção da apresentação o próprio Liam dedicou ao vocalista gunner.
Hoje me pego aqui ansiosa para vê-los ao vivo pela primeira vez e talvez a última, isso se a turnê não acabar antes mesmo de começar. Só aguardando as cenas da novela Gallagher's Tour!